6.8.11

Não são

Não são coisas simples que vasculho num verso,
Nem ângulos novos de cenas de sempre,
Anseio por algo sempre surpreendente.
Ao que nos levam os tempos,
A olhar para trás sempre com olhos de despreso...
Um poema pode sempre ser.
Um poema não deve nada, nunca, à regra.
Por isso o poema é eterno,
O poema é o refugio do pensamento,
O poema é a frustração e o sustento,
E não venha a crítica dizer que não leu.
A distância entre a pessoa e a poesia
Está no poema nunca escrito por si.
A cada pessoa espera um poema, pelo menos.
E cada poema espera uma pessoa, pelo mais.

25.5.10

15.1.10

Terremoto

Adoramos assim o conforto,
Nascemos do quentinho,
Dormimos no céu.
Sentado no sofá toco e toca-me o mundo
Através de uma máquina pequena.
Estico o braço e aponto à TV
Escolhendo que realidade ter.
Escorre calor pelas veias de minha casa.
E tenho um caixote branco
Sempre frio por dentro.
Um ainda maior com rodas e volante.
Estou na pontinha de cima
Do icebergue da humanidade,
O das suas condições de vida.
Icebergue criado e mantido,
E cada vez mais alto.
Terá que haver um limite,
De acumulação de riqueza.
Perante as desgraças do Mundo
Estremeço-me detenho-me
E quero mesmo muito derrete-lo,
Aos poucos, qual sol irado.

22.12.09

Verbo

Formas Nominais:
infinitivo: idolatrar
gerúndio: idolatrando
particípio: idolatrado

Presente do Indicativo
eu idolatro
tu idolatras
ele idolatra
nós idolatramos
vós idolatrais
eles idolatram

Futuro do Presente do Indicativo
eu idolatrarei
tu idolatrarás
ele idolatrará
nós idolatraremos
vós idolatrareis
eles idolatrarão

Futuro do Subjuntivo
quando eu idolatrar
quando tu idolatrares
quando ele idolatrar
quando nós idolatrarmos
quando vós idolatrardes
quando eles idolatrarem

Infinitivo Pessoal
por idolatrar eu
por idolatrares tu
por idolatrar ele
por idolatrarmos nós
por idolatrardes vós
por idolatrarem eles

Mais-que-perfeito do Indicativo
eu idolatrara
tu idolatraras
ele idolatrara
nós idolatráramos
vós idolatráreis
eles idolatraram

Presente do Subjuntivo
que eu idolatre
que tu idolatres
que ele idolatre
que nós idolatremos
que vós idolatreis
que eles idolatrem

Imperativo Afirmativo
idolatra tu
idolatre ele
idolatremos nós
idolatrai vós
idolatrem eles

Imperfeito do Indicativo
eu idolatrava
tu idolatravas
ele idolatrava
nós idolatrávamos
vós idolatráveis
eles idolatravam

Futuro do Pretérito do Indicativo
eu idolatraria
tu idolatrarias
ele idolatraria
nós idolatraríamos
vós idolatraríeis
eles idolatrariam

Imperfeito do Subjuntivo
se eu idolatrasse
se tu idolatrasses
se ele idolatrasse
se nós idolatrássemos
se vós idolatrásseis
se eles idolatrassem

Imperativo Negativo
não idolatres tu
não idolatre ele
não idolatremos nós
não idolatreis vós
não idolatrem eles

1.3.09

1 milhão

Estaremos já preparados para discutir,
não só o ordenado mínimo,
mas também ousar discutir o ordenado máximo?
E para não chocar com credos centenários,
que se comece com… 1 milhão de euros!
Tudo acima disso, reverteria para todos.
Como? Simplesmente decidindo.
O problema está mesmo aí,
há gente a ganhar mais do que 1 milhão, por mês.
Isso é muito, demais.
Numa outra sociedade, tudo acima de metade disso,
era decidido pelo contribuinte onde ser investido em nome de toda a sociedade,
imagine-se o reconhecimento (ou reprovação)
do grupo, para com essas decisões de investimento.

11.1.09

Início de século

Início de século alucinante,
Gerações hipotecadas à priori,
Que vai a história perpetuar?
Como lerão olhos do futuro
(Também presentes de nós),
Tamanha explosão de violência tamanha?
Sabe-se hoje o quão se manipulou o de ontem,
Compete pois a cada geração ser simplesmente sincera.
No futuro vão querer saber a verdade.
Quem promoveu o esquecimento global
E quem lutou pelo conhecimento total.

Deixo um contributo:
Não queiram mais do que aquilo
De que se imaginaram ter.
E quanto mais mentiroso o vosso dia
Menos desejada a verdade foi.

7.8.08

Duendes Mentais

Cena 1
Rui acorda durante a noite com mais alguém no quarto, baloiçando na sua cadeira de baloiço. É um homem idoso. Rui compõe-se na cama e inicia-se uma conversa.

Homem Idoso – Finalmente conseguimos vermo-nos mutuamente...

Rui – Mas quem és tu?

HI – As respostas virão depois.

Rui – E... (Rui é interrompido)

HI – Para já o importante continua a ser o tempo, esse velho companheiro das eras.

Rui – Estou estranhamente calmo, como se já o conhecesse.

HI – Não é de todo falso, eu sou o que vocês chamam de projecção mental, não estaria aqui se não atendessem a chamada, afirmo assim.

Rui – Estou a seguir. Se eu não quisesse ver, mais ninguém via.

HI – É isso mesmo, e isto aplica-se também a mim, já imaginaste se a projecção viesse de muito longe?

Rui – Até tenho uma teoria sobre isso.

HI – Tens ou temos? Olha que somos astronomicamente muitos, de muitas galáxias. A genialidade tende para o infinito sempre que um ser humano chora ao nascer. Há muitos planetas onde as pessoas sonham com o número daqueles que erguem o Sol e, em alguns casos, mais do que um Sol.

Rui – Estou a passar por aquilo que aglutinou todas aquelas pecinhas de sonhos desorientados, tudo se junta aqui neste quadro.

HI – Na verdade está a passar-se em todo o lado, incluindo neste quarto, pois, como tu sabes, tudo está num ponto, e estará.

Rui – Então que ilusão óptica é esta?

HI – Estás a ir depressa demais. E mistério dos mistérios, nem sempre é fácil aceder a toda a informação, estando ela confinada como tudo, num ponto, e bem compacta.

Rui – Só posso imaginar, só posso imaginar.

HI – As empresas, não só deste planeta, enviam cartas com a marca do remetente, as pessoas assinam por baixo. No núcleo das células está o projecto do ser da cabeça aos pés. Como tu bem teorizaste, no momento do Big Bang tudo levou um selo de marca, registada e eterna, uma Coca Cola Universal.

Rui – Há uma Coca Cola em cada planeta?

HI – (Sorrindo) Digamos que há melhor e pior, do pai natal não posso falar. É um prazer estar mais uma vez contigo, depois de tantos anos de preparação e ajustes. Tu ainda não te lembras, mas andas de vida em vida, humana, para que possamos saber como é, o frio e o quente e todas as fases da lua da experienciação. O símbolo do yin-yang está exposto em galerias visitadas em sonhos de jovens pintores. Tu Rui, cresces a cada nosso encontro, mas sabes o quão atarefados somos, tu sentes o palpitar dos nossos números, não sentes?

Rui – Talvez, não sei. Talvez agora o queira sentir, agora, após anos de contemplação em frente ao oceano quente e atraente, a criança resolve esquecer os tubarões e as ondas e mergulhar um dos dedões primeiro.

HI – É tão bom rever-te sempre tão outro. Tão cheio de energia pura e potente. É sempre algo muito diferente, uma peça de barro feita pelas mesmas mãos, com a mesma matéria, mas sempre tão diferente.

Rui – Sabes que não gosto de ser bajulado...

HI – Nem respondo. Mas o importante começa a partir desta próxima frase. Eu vou demorar anos, repito, anos, a recuperar desta nossa conversa aqui. Por isso temos de a aproveitar ao máximo. Eu acho que posso mais umas duas horas, mas deixa perguntar à produção (tapa os olhos com uma mão em consulta interna). Bem, não estou para conversas parvas, continuemos.

Rui – Sinto no ar uma ânsia de que aconteça algo, de se testemunhar algo, o querer estar lá para se falar, se falar... nem sei bem.

HI – Sabes sabes. Todos sabem mas não se lembram, nem podia ser assim. Para se nascer é preciso esquecer o que é estar-se morto, e o inverso, validando tudo.

Rui – Então porque não me lembro da tua cara?

HI – Porque és outro tu, o que obriga a ser outro eu, perante ti, porque perante o espelho ninguém nos vê como nós próprios.

Rui – (Sorrindo) Que frase bonita. Deixa ver se percebi uma coisa.

HI – Força.

Rui – Quer dizer que algures estás tu todo concentrado aqui...

HI – Imagina tu a pontaria. O tempo que levou a desenvolver a técnica, dizes que foi muito? Se levasse algum tempo, achas que estaria disponível em todos os cantos do universo? A nossa conversa acaba aqui e assim, não te lembras mas foi por comum acordo. Um até amanhã.

Rui compõe-se na cama e adormece.


Cena 2
Um jovem, Manuel, sai de um estabelecimento prisional e encontra uma senhora de aspecto místico.

Manuel – Boa noite senhora, sabe dizer-me onde posso pernoitar por estas bandas?

Senhora – Posso dizer-te que não vais pernoitar hoje. Hoje vai ser noite de conversa que já vais atrasado para o resto da tua vida.

Manuel – Já que vamos conversar toda a noite, posso saber com quem?

Senhora – Sou uma estranha entre estranhas, um espelho entre lagos, uma vírgula entre frases.

Manuel – Obrigado, e que gosta de beber, certo?

Senhora – Não, não gosto. Mas gosto da minha missão. Trazer paz à guerra, caminho ao perdido e água ao moinho. Também gosto de brincar com a verdade como se ela não queimasse nas mãos.

Manuel – Estou a gostar. Primeiras horas de liberdade interessantes sem dúvida.

Senhora – Um velho gasto de tanto andar, pôs-se ao caminho dos andes. E andou andou andou, para longe de todos os olhares e para ninguém morreu. Chegou a um pico de altura e de frio, abriu os braços ao pôr do sol peruano e transpôs o corpo ao vento gelado. Consta que levava um saco cheio só de verdades e que deixara as mentiras para indicar o seu derradeiro caminho. Pois eu dei com esse saco. Agora a verdade é de todas as pessoas.

Manuel – Seguiste a mentira.

Senhora – Resolvido o problema do estômago, o ser humano ganha tempo para pensar. Não lhe chega saber que o universo é mesmo grande. Entrega-se à vertigem do infinito, entretanto, tempo precioso de vida passa. Não serão as verdades, valiosas o suficiente, mais importantes do que o caminho sinuoso para a elas chegar?

Manuel – Dizem que as verdades, aquelas que ecoaram por toda a história e não encontraram livros para poisar, essas verdades, libertam. No entanto ainda trago grades na cabeça, percebes?

Senhora – Não me digas que vais ficar pelos novos porquês quando ainda nem todas as certezas arrumaste.

Manuel – Não, não digo. Na prisão encontrei-me livre da prisão do corpo. Viajei por vales entre montes monumentais. Sentava-me antes de ir dormir e abria os olhos fechando-os. Quando inspirava sentia-me expirar e vice versa, fazendo com que este corpo estivesse exterior ao tudo eu. Noite após noite o ritmo respiratório diminuiu, a amplitude aumentou para além dos limites planetários. Respirei a lua, o sol e as outras estrelas. As grades, as ruas e as lágrimas. O dia de levar dali o saco de ossos e o dia de trazer para lá pinceladas de energia. Andei em ondas que trincavam praias em planetas distantes, mas não para os meus pés.

Senhora – São praias das quais não podes guardar areia, mas do teu corpo só os olhos se bronzeiam...

Manuel – Estive preso livre mas não me livrei de estar preso. O que nos prende não são as grades, são as pessoas.

Senhora – No lago as pingas provocam círculos em expansão que quando se tocam, seguem.

Manuel - À muito que ninguém puxava por mim. Obrigas sempre as pessoas a irem fundo?

Senhora – Digamos que é por razões de tempo. E sabendo que muitas coisas se passam ao mesmo tempo, mais assustada uma pessoa fica ao saber que tudo já se passou nesse mesmo mesmo tempo. O desfocalizar objectivos impressiona quem vê uma infinidade de probabilidades no universo tridimensional recém nascido. Há planetas em que as pessoas envergonham os fotões que com eles colidiram. Em outros veneram-se cometas e suas vestes de seda branca. Muitos existem para celebrar a vida e a sua raridade. Por muito que varram o lixo para baixo do tapete que só vocês vêm, nada podem esconder. Quando simplesmente um de qualquer dos de vocês quiser muito uma coisa, todo o universo conspira, todo o universo está sempre ao alcance, simplesmente está-o em todo ele.

Manuel – Informação densa me ofereces...

Senhora – Sim porque me deixaste fazê-lo.


Cena 3
Andreia passeia por uma floresta, ao passar por uma árvore, esta fala-lhe.

Árvore – Porque nunca me olhas? Não acredito que estejas surpresa, afinal de contas falas às árvores, abraça-las, dás-lhes mimos e à única que fala, nada?

Andreia – Desculpa mas pensava que estava num já visto.

Árvore – Andreia, dá-me um abraço, tenho saudades de um (Abraçam-se).

Andreia – Que bom, tens uma energia profunda.

Árvore – Sim, tenho longos ramos, longas raízes e longas histórias. E tu também.

Andreia – Não temes ser vista a falar comigo, ou isto está a ser uma ilusão?

Árvore – As raízes das árvores tocam-se, elas avisar-me-iam. Não temas o que ainda não aconteceu, sob o perigo de criares uma realidade emergente. Mas ao imergir numa realidade que rejeitamos podemos ser criadoras da semente revolucionária. E é de uma revolução que precisamos, como bem sabes Andreia.

Andreia – Mas és uma árvore, não és?

Árvore – Tenho tanto de árvore como de machado do lenhador. A única maneira de não sofrer com os golpes é ser ambos, mas o lenhador não faz isso, pelo menos neste planeta, o que é um problema.

Andreia – Estou confusa. Venho para aqui passear desde menina.

Árvore – Eu sei.

Andreia – Exactamente para simplificar o meu ser com a vossa companhia, sempre senti um apelo, cheguei a pensar que ouvia sussurros...

Árvore – As pessoas criadoras furam as regras de equilíbrio do respirar compassado do mundo. São foco de desequilíbrio, obrigam a ajustes por todo o lado. Se soubesses a trepidação que te envolve e o que provoca ao tocar-nos, não saías mais daqui.

Andreia – Mas é isso que sempre quis, viver por aqui, entre este cheiro sempre activo, sempre gratuito!

Árvore – É teu intuito trazeres pessoas, em outras vidas trouxeste inquisições, aldeias ciumentas do teu isolamento, pensavam eles, embora na realidade, foi e continua a ser, o inverso. Depois resolveste viver entre eles e continuar a vir aqui a miúdo, o que foi uma excelente decisão, mas as coisas não estão a correr como o planeado...

Andreia – Vocês estão a desaparecer, mas continuo a sentir-vos em sítios rapados.

Árvore – O amputado sente o membro para lá do facto, mas na realidade os vossos corpos luminosos são inquebráveis, indivisíveis.

Andreia – Ser activista pelas florestas não tem sido o suficiente...

Árvore – Não, não tem chegado. Se o lenhador agradecesse a cada árvore sacrificada, as outras cresceriam por ele, não resistiriam a um agradecimento. Dentro do mesmo ramo de raciocínio, se por cada visita plantasses uma de nós, a aldeia podia ter mais mil machados que a temperatura das casas não tenderia para o infinito.

Andreia – Podemos todos fazer muito mais. Estou destroçada. Sinto-me com mil árvores de atraso. Como se tudo não tivesse valido a pena. Talvez a culpa da mancha verde ser cada vez mais pequena seja minha, tantas palavras e lágrimas para nada.

Árvore – Pensas que ficamos abandonadas quando o teu corpo se ausentar? Ainda vislumbro o verde por esses campos fora, só pode ser sinal de que voltará. A natureza da natureza é voltar, exactamente como o machado, num ir e vir firme. A vitória não será saborosa porque foi difícil, mas porque sempre foi inevitável.

Andreia – Sempre soube disso, cada chapada de meu pai, fazia-me virar a cara para a floresta ainda de pé. Até que desistiu de me bater, eu queria era vir para aqui. Pouco tempo antes de se ir, ainda veio comigo algumas vezes, ensinei-o a abraçar-vos.

Árvore – Ele abraçou-me várias vezes, de cada vez foi-te retirada uma chapada e por isso vocês separaram-se em paz. Como nós nos temos que separar agora.

Andreia – Mas não vais estar sempre aqui?

Árvore – Não. Vou estar por todo o lado. E por ser toda a consciência das árvores juntas, e por poder ser todas elas não temo os machados, só a ignorância de quem neles pegam.


Cena 4
António bebe água de um riacho, com as mãos em concha. Por trás de si surge um homem, ao tocar-lhe no ombro diz:

Provador de Águas – Então, que tal o refresco?

António – (um pouco assustado) Óptimo, mesmo revigorante.

PA – Se soubesses quantas vezes fui a correr para ver se lá em baixo sabia ao mesmo, ficavas cansado neste momento.

António – E que ensinamento obtiveste da nascente?

PA – A água é um tapete líquido com sabor às rochas circundantes e ao ar, um pouco.

António – Assim o património universal do experiênciar sabe ao que lambe.

PA – Tu és um rio com um enorme caudal. Barragens fecham-se à tua chegada, inocentes do teu tamanho.

António – Estamos reduzidos aos rios até às cidades.

PA – Como se o sal os envenenasse até ao salobre, António.

António – Já lá deixaste sedes?

PA – Entre as cidades e o mar há muita rocha e ar. Mas a água já sabe mal, sempre. Um provador de águas prova em altitude, acima de gases pesados, por baixo da mais pura precipitação.

António – Sendo cada sítio único, porque não procurar sorver também o que efectivamente é original?

PA – Tu não és tu, mas ao mesmo tempo, de ti tens muito tu. O rio corre para baixo, mas queres ir para cima, ao menos olha-o. No outono a folha não percorre o rio, ela caiu.

António – Andei uns tempos preocupado com as fontes, pensei ter descoberto pingas, nenhum fio continuo no verão. No inverno venho cá menos. No outono, um poeta que notasse a queda cumprida da folha, podia pô-la a percorrer um rio.

PA – Assim fará Deus em quadros eternos.

António – Onde bebeste a melhor água?

PA – Onde encontrei a maior sede,... (levando uma mão ao pescoço) aqui, ...na garganta.

30.12.07

Lind@

Cabum!
O choque do meteoro
Cobrirá a maior das estátuas
Com vários metros de terra,
Porque insistes em quedar imóvel
Perante a queda d@ (Terra?) Planeta?
Ah! A arroba, mas que boa ideia,
O fim dos géneros na literatura portuguesa
Pois aqui te convido
A ti, aqui
Para te dizer:
És lind@,
Não fujas às responsabilidades
Ó Terráqui@!

3.12.07

Sublimado

Escasseiam verdades em sentimentos,
Comportamentos desviam sorrisos forçados,
Abate-se por comida regada de sangue,
Torneiras pingam secas de preocupação,
Fogos lavram atrás de ninhos,
Sofrimentos esbatidos em telas centenárias,
Gritos ouvidos em partituras quaternárias,
Ventos repetem tempestades antigas,
Almas vagueiam em ruelas perdidas,
Sonâmbulos acordam em frente a frigoríficos,
Crianças gritam por seios cheios,
Abraçadas por aquele único par de braços,
E o som dos despojados de carinho,
Ecoa por aí como se fosse audível,
Esbanjados ouvidos diariamente,
Piscares de olhos para sorrisos errados,
Lentes de betão para comportamentos desviados,
Corre e acorre como se fosses importante,
Prepara-te para o sublimado.

E se

E se um pintor partilhasse todos os seus esboços
Um oleiro todos os seus cacos
Um pássaro todos os seus amanheceres
Um poeta todos os seus rasgados textos
Uma bailarina todas as suas quedas
Um maestro suas batutas partidas
Uma cozinheira seus truques ingeridos.
E se. E se.

Todo esse alarido focado fora de nós,
Das indumentárias aos cheiros,
Das plásticas às máscaras.
Perfume de nós é o que pretende a natureza,
Que diferença lhe faz o que pomos para nos cobrir,
Para nos encobrir?

Voltando ao e se,
E se naquele tempo tudo fosse consumido
E se fosse possível encobrir também a história
Mesmo quando ela está a acontecer,
Mesmo ali, a centímetros das retinas,
Antenas de cérebros iincríveis,
Capazes, muito capazes,
De beijar,
De sorrir,
De destruir planetas.

27.11.07

Pense!

A economia oculta um facto
Não menos aterrador.
Porque lutam eles por crescimento eterno?
Ter mais do que tu
Sempre mais do que tu.
E eis que chegados aqui
A dispensa exibe os excessos
Do eterno crescimento económico.
Ó Bill, imagina que os descendentes
Dos inventores das sanitas, amplamente utilizadas,
Ainda estivessem reclamantes, paten-teados,
Mas é óbvio que 1 dia o Sistema Operativo
Vai ser gratuito! Mas caramba,
Quem pode pagar que pague mais,
Pela tua originalidade.

Imagino eu à muito
Um sistema em que trabalhador admitido,
Salário igual aos fundadores.
A questão seria mais a nível macro,
Porque a mais valia gerada pela empresa
Seria empregue sob opinião do corpo gerente.
Imaginem a Microsoft, um poderoso Loby
De micro-milionários, tudo a um ritmo diferente
Tudo muito mais assegurado
A um consumo muito mais baixo
A um ritmo de entorpia, muito, mais baixo.

A passagem vai levar mais anos do que desejei.
Mas hoje vejo a solução, ou isso quero sentir,
Essa passagem não pode jamais implicar
Ir pelo que outros têm, fazendo questão disso,
O amealhar terá de ter regras
O esbanjar passará a ser discutido bem cedo nas escolas,
Um dia não faltarão iates e castelos, veículos e livros,
Bosques, locais, habitações, ilhas.
Tudo, ou muito quase, de toda a criatura viva.
A natureza paga em entorpia, ou seja,
Gasto energético, para cada ser vivo se alimentar,
Para cada vento bufado, cada Sol incendiado.

Quero que se saiba que destruir paraísos
Nunca, jamais, esteve nos planos,
De virtualmente tudo que efectivamente
Pense!

12.11.07

Sopro de tempo

Num sopro de tempo
Infecta-se um planeta,
De civilização de alarido.

Com que história
Ficará o Universo
Para contar?
Que parte deste texto
Insistirá em prevalecer?
Será assim tão difícil entender
O tamanho de Toda a História,
De todos os cantos?
Porque carga de água
Haveriam bípedes
De rebentar tudo à sua volta?

Reservar páginas de Toda a História
Para eternizar civilizações
Onde as coisas correram mal?!

Os planetas podem ser invadidos
Inquilinos podem ser despejados
A boa vida pode acabar mal
Toda a economia mais não será que virtual.

Em um outro sopro de tempo
Todo o Sol se apagará.

31.10.07

Trilhos

Trilhos trilhos e mais trilhos,
Tudo feito para nos encaminhar
Tudo sustentado pela grande força:
O grito seco do consumo.
A vida feita à pressa
A luta perdida contra o tempo
A escrita simples
Viver tudo como se nunca
Se fosse morrer.
A eterna juventude
Torna-se o próprio marketing,
O rio não seca desde que
Se mantenha a torneira aberta.
Desejem, queiram consumir,
Sejam o maior inimigo
Do vosso próprio estômago.
Em verdade vos digo,
Mais uma vez,
Quem muito quer levar em viagem
Muito pouco trás na volta.
Quero lá saber do que levaram
Isso vimos todos bem,
O mesmo se passa em vida
A algum lado irá dar
C'um raio,
Paralelamente
Esse lado aqui neste texto
É a morte.
Essa certeza cimeira
De todas as filosofias
Mais ou menos egoístas
Mais ou menos esquecidas.

Depois acabam por se ver
Criaturas a tudo fazer
Pela eterna juventude,
Até com jovens competem
Talvez alguém o fez
Quando também o eram.

Voltando aos trilhos,

Todos escravos do tempo
De ordenado em ordenado
Como ponteiros de 1 relógio
Às voltas todos os dias.

12.10.07

A cada segundo de nossas vidas?

Importa o que e como sentes
Importa a ti e só a ti
Importa se sentes te preencher
Importa, não importa.
Há todo um infinito por sentir
Toda uma viagem a reparar.
Sim, porque insistimos
Pela obliviedade em relação
À miríade de opções bandejadas
Mesmo em frente aos nossos olhos,
A cada segundo de nossas vidas?
E todas essas horas num mesmo relógio
Não esgotam todo o tempo disponível,
Mesmo o Universo sendo um tremendo
Construtor insaciável de relógios.
Crio o Uninverso como placebo
Comparo isto tudo com o grande nada,
Mesmo aí na periferia do meu saber
Volto à origem, ao que conheço,
Volto a esta folha, este texto,

Importa o que exportas,
Contando que te importes.

6.10.07

Essa chave és tu

Encontrou uma janela de oportunidade
A natureza em bípedes em nós
De um cordilhame enorme infindável
De experienciação por esse cosmos fora,
Levar memória disto tudo vivido
Assim se preenche Deus de nós
Consequentemente assim
Também Deus nasce,
Ao extrair uma gota ao mar
É possível teorizar vastos oceanos
Assim se subdivide o todo
Mais uma vez em nós,
Através de ti e só de ti
Tens uma chave para esse oceano
Essa chave é uma gota
Essa chave és tu.

24.9.07

1 ano!

Pois é, faz hoje um ano este blog, parabéns!

5.9.07

O fingir, que se vê

Presente a tribunal o capitalismo
ProFerida a sentença em tempestades
Reajustes necessários e exagerados
Isolados em redomas abstraídas
Arrastam-se encenados trilionários
Que fingem ver nada
Mesmo sem nada os ver
Últimos a saber das alterações globais
Últimos a querer saber de todo
O todo e o nada
O fingir, que se vê
Em palcos e em passeios
Em ruas e em parlamentos.

12.8.07

Rações Unidas

Antigas nações reclamam,
Com medos e traumas,
Por toda a parte.

Um certo abismo
Começa mesmo ali
A qualquer momento,
Há muito tempo,
Qual ameaça eterna.

Tudo isto parece desejar
Cérebros em banho-maria,
Aquecidos de marketing, desejos e droga.
Ao se afastar a cenoura do burro
Este poderá ver o campo plantado
Por todo este vale abaixo.

...

Arrefecem-se cérebros
Em usinas de nações modernas
Em usinas de rações eternas.

6.8.07

Esquecimento Global

Circundando o vale
Ecoava de monte em monte
Um último poema gritado.
Mungidas de tanto gelar
Já não amamentam o rio
Que quer ver o mar.
Passa a ser à enxurrada,
Banquetes ultra efémeros.
Esquecimento global
De se poder alterar,
Agora!
Muito melhor que depois.

E assim depor
No tribunal da história.
Sede livros irmãos!
Sede livros!
Agora…

(Dezembro de 2009, CO2PENHAGA; MEXICO2, Nov/Dez 2010)

27.7.07

O Nó

Na marmita cósmica
Flutua uma estrela brilhante
Carente de gravidade.
Sentam-se os bispos em tabuleiros
Para guerras aos quadradinhos.
Sustenho a respiração
Para continuar a escrever.
Os brinquedos brincam
Aos miúdos com eles.
Marionetas que cospem
O próprio cordilhame
Pretendem fazer crer
Que algo lá em cima as comanda.

Ohhhhh!
Agora só uma mão
Pode desfazer o nó!

25.6.07

ISS 2007

16.6.07

Ode às Opas a nós próprios

Sinto-me a me opar
Sempre que opto.
Pode ser hostil
Se carregada de geo-sentimento.
Se não me afastar de territórios
E pseudo conquistas.
Opem,
Sempre que sintam
Estar a entrar em atrito.
Poderão não estar a ir
Pelo trilho certo.
Opa ao governo e ao esquecimento global
Das nossas experiências.
Mas cuida-te
Que opa antes do mais,
É semear expectativas
Criar centelhas de memórias,
Mais tarde reclamarão coisas a iluminar.
Por isso muita cautela e,
Olha ao quanto opas
Q’urge opar a terra.
Repito, opar, não, ocupar.
Áh!
E atenção às opaminas!
De ouro.

8.6.07

Mas há quem veja!

Ópá!
É uma cadeia com
As chaves por fora,
Prisões neo-domiciliárias.
Levados a ficar por casa,
Por causa de livres carcereiros.
Acabam por ser dias inteiros
Em buscas de fugas para dentro.
É horrível!
Saber-se preso
Para todas as portas abertas!
Milhões dão-se
A querer sair de algo
Sem nunca lá terem entrado.
Batalhões de liberdade
Fulminam chaves a breves olhares,
Para lá em baixo tropeçarem na inveja.

Opa!
Mas há quem veja!

21.3.07

Primavera

Feliz primavera para todos, e para todas!
Que bombas não rebentem por todo o lado!

Beijos!

Parto para o parto,
Pato para o pato.
Erre, para errar,
Por aí, olhe, erre.
Ponha-se à vontade,
Ora essa nesta.
Ame-me mais
Do que poderei amar.
Assim encontro-me em si.

Em lágrimas

Derivei de um confortável sofá
Para me ver à janela de um quadro único.
Sorvi um pouco de chá
Fazendo saltar a colher de metal.
Desejei ver pôr-se o sol por mais tempo
Mas o chá já era frio para chá.
Os meus olhos brilharam toda a noite
Como se estivessem hipnotizados.
Era como se a luz preferisse reflectir-se neles,
E, ao mesmo tempo, eles fossem a lua
Que reflecte os fotões que são vistos por todos nós.
O sofá roça na minha perna convidando-me a sentar.
Os canários da vizinha estão demasiado calmos
Para um pé de perna traçada que agita o ar.
Encontro a lareira com os meus olhos,
Acenava-me com calor que me escapara.
Entrou alguém que se entrepôs entre mim e a lareira
E desejei que fosse fechar a porta.
Fechei os olhos e a humidade saiu
Em lágrimas rosto abaixo.

26-4-2003


Ideias assim

Desde que pegue nas ideias assim
Volto por caminhos que dão a mim.
Os pirilampos só sabem que brilham
Se virem brilhar.

Espelhos de sorrisos,
Lágrimas e rugas,
Viajar-se por meninas nuas,
A lágrima do sol a originar o mar,
A bota de montanha que esmaga a lesma,
O suicídio das trutas por vida e glória,
Pelo menos aqui,
O desfecho de qualquer batalha,
Qualquer amor, qualquer fim,
O rádio do pobre que toca sem pilhas,
A mão do mendigo que pede por ti,
Tudo isto me leva por caminhos
Que me levam a mim.

20-12-02


O campo circula pelo ar

O campo circula pelo ar
Porque a terra gira com ele,
A caneta permanece atónita
Ao papel a passar por ela,
Como vento pela tua cabeça.
O pintor que pinta o texto
Permite ao poeta pintar o sol,
Que se-lhe-é alguém
A fazê-lo com uma caneta.
Os governos poderão provocar as massas
Para se permitirem esmagá-las.
Chegam energias endereçadas a mim
Que não foram pedidas nem achadas.
Deixar-se achar, aliás,
Será uma saída firme
Para uma ponte frágil.
Regresso a mim depois do mergulho,
Deixando ao ar a possibilidade
De se expandir em mim.
Ao boiarmos ao firmamento
Pomos a água a ver,
O mundo a volver
E o sol a arder.

Insisto continuar,
O avant-finalle,
A primeira coisa após,
O último soldado a postos.
O nada, ser como dantes.

11-12-02


O encontro

Roteiros estranhos de destinos,
Cobriam as paredes da biblioteca.
Faz tempo que buscas na tua cabeça.
Em certos dias desejas
O que em outros evitas.
O mar sopra às algas presas às rochas,
Elas nunca resistem e bailam sem esforço.
Ser fiel às variações diárias,
Não resistir, apenas ser.
O quadro só está pronto quando é exposto,
O universo preenche o espaço da exposição toda.
Atrás dos guias juntam-se mentes adestradas,
Ainda inocentes da sua liberdade mesmo ali ao lado.
Segues uma entidade por uma outra exposição
Ao sabor do cheiro das cores e de sorrisos interiores.
Entras em salas estranhas
Cheias de roteiros certos de destinos,
Encontras o tempo que buscavas na tua cabeça,
Memórias de profundo conforto, de profundo ser.
11-11-2003

1.3.07

E no final

Holocausto rápido apressa decisões
Primeiro antes de imagens repetidas
De arranha-céus ao chão,
Mais tarde
Naves disponibilizam espaço
Para limitado número.
Pais de inúmeras crianças
Encheriam as naves.
Alguns adultos foram apontados
Outros fizeram-se apontar.
Assaltam a dispensa dos viveres.
Rebocam traumas por todo o lado,
Riscando o chão por onde pisam.
E berra-se, fala-se alto caramba,
A querer saberem tudo?

28.2.07

A Sangue

Do doce pranto ficou o espanto,
Do cheiro na sala a cortina ao vento,
“Torturar é o maior acto de cobardia”,
Estava escrito na parede branca.
Escorre sangue nas veias do mundo
E a luz viaja não sei quantos por segundo,
E o tempo passa nos momentos de silêncio,
E a criança brinca aos poetas,
E todo o ano há flores, natal e medo
E o tapete vermelho à frente dos nossos pés,
E os que vêm substituir os que vão,
E os sorrisos daqueles que choram,
Nada disto importa em frente,
Da parede branca.

E então decidi escrever

E então decidi escrever
Como nunca o houvera feito
Numa velocidade estonteante
Como a criança que abre a prenda
Num rasgar para descobrir
Como o cientista solitário
Num laboratório confuso
Como um sonho qualquer
Numa cama quentinha
Com almofadas sem fronha
Numa cara iluminada
Como o amor que também vem
Pelo olhar e pela estrada.

Vendo no fruto o saber que ele tem

Vendo no fruto o saber que ele tem
Permite-se o olhar
De olhar para ninguém.
Uma janela russa
Confia em cortinas
Para se preparar para o olhar.
E veio brilhante suave e ofegante
Embaciando e limpando
A auto cortina da própria estima.
Quedando-se até chegar
A noite propositadamente gelada.
Esperando como se me visse líquido.
Fiquei sem saber se eu
Era o vidro ou o gelo.

23.2.07

21-02-2007 5:00:56









stellarium.org

Descalço

18-11-02

Atrás de colinas e colinas
Encontrava-se uma prateleira
De sapatos altos,
Que andavam com pés emprestados.
O vento esvoaçava pássaros
Porque queria voar.
A alegria do recreio
Ensinava professores
E ao transeunte acenava.
Os envelopes eram lambidos
E os códigos de barras
Eram livros que erravam
Pela tua cabeça nos pés.

Chateia-se com pouco o clima da terra
Constipam-se os vento em espirros de água
Rolam remoinhos de fortes temperamentos
Voam folhas de textos órfãos e esquecidos
Rebentam águas a cada segundo para sempre
Chocam ideias semelhantes mas egocêntricas
Discutem os parlamentos de porta fechada
Canais de rios poluídos oferecem paisagens feias
Sangue de animais escorre em estômagos humanos
Sofre a borboleta desesperada por uma flor livre
Cadeias sobrelotadas das mesmas histórias tristes
Lábios secos sonham com línguas atrevidas
Sorrisos em caras descontentes enganam-se
O índice do cosmos denota erros aparentes
Planetas giram alheios ao disparate

Arrepio!

16 Ago 2003

A Peruca

19-11-02

A peruca do direito caiu
Com enorme estrondo
Que não se ouviu.
Os plebeus não iam menos nus
Que o pobre rei.
Quem vê a nudez nos outros
Arrisca-se a não ver a sua,
Num ping-pong, em que a bola
Muda de cor na rede,
No meu campo ela é-me azul,
No teu nem sei, olho para ti.
Vejo a minha nudez em ti,
Vê-se muita coisa noutra pessoa,
Incluindo no direito careca,
As perucas encaracoladas, brancas.

31.12.06

Sonhos

Fôramos todos para o palco da vida
Vestir o papel que nos coube
Em fato de membros e extremidades e:
A boca de cena abrir-se-ia
Para um abocanhar de olhos espetados
Em cérebros atentos e ávidos.
As sensações saltariam
Como golfadas de sangue,
Do festim a que não faltou a sobremesa,
Servida fora da sala em bandejas quentes
De ecos de teatros do espírito
Que tudo abocanham.
Cada encenação molda o espaço
Com emissões de sons,
Cheiros, ideias, sensações.
Cada aplauso reconhece
Aqueles que se ergueram
Ao placo, ao sacrifício,
E estarem ali,
E para sempre perderem
O quadro vivo.

Por não apoiarmos os sonhos dos outros
Estamos todos a viver um pesadelo.

Vómito

Servidas em bandejas de ferro
Estavam esses frutos de cores variadas,
Nunca antes vistos neste planeta,
Por isso impossíveis de descrever.
Pretendo voar sem asas de espírito,
Como se de água se tratasse.
Que faz um poema não ter sentido?
Mais revoltados por não voarem
Estarão os pinguins.
Mais tristes que as crianças
Que trabalham de sol a sol
Quem poderá estar?
Mas que raio caiu sobre este planeta
Que fez murchar o capitalismo?
O sonho, tornado, pesadelo,
A brisa crescida em tempestade.
Soam alto os sons da dor interior
Desta gente acente no medo.
A doença dos que têm tudo
O necessário para viver.
Vomito! Vomito! Vomito!
Pronto, agora o estômago encontra
O vazio que tanto combateu.
O palco recorda momentos de glória,
Momentos inocentes da guerra mental.
A batalha eterna do amor contra o medo
Passou a ser definitiva e cruel.
Agora sentes-te no campo de batalha?
Sabes qual é a estratégia a seguir?
Que escolhe o teu espírito,
Amor ou medo?

27.12.06

Tamanhos















































11.11.06

Centelhas que caem do céu

Centelhas que caem do céu
Plantam ideias férteis
Por todo o vale abaixo.
A brisa resiste à atenção
Suavemente esgotada
Entre outra coisa qualquer.
Respirar sempre confiante
Em algo que nos garanta.
Cantos acesos por todo este planeta,
Que nos atura à muito
Birras desequilibradas em inconsequências.
Cantos acesos e atentos
Ao que te esventra, Terra.
Reservar bilhete central
No espectáculo da tua salvação.
Dar parte de ti a todos os seres vivos
E seres uivos.

4.10.06

Agora vou remar


Agora vou remar, agora vou isto,
Agora vou aquilo, seguras no espelho
Por gosto ou por necessidade?
Ver-me a vir de além
De um caminho invisível
Aos olhos dos que não querem ver.
Esperam que passemos.
Sorrateiramente, passam por lá,
Apanham os tiques e tudo.
Prefiro ir do lado de lá do tapete,
Contando que não pisem o rolo.
Agora vou ver a rota,
Não iremos bater numa ilha,
Ou num espelho.
Ficas tu a remar ou queres ver tudo?
Não vá esconder algo de ti,
Pelo sim pelo não,
Escondes coisas de ti.
Mesmo no motim havia mãos ao leme,
Cabelos ao vento e ordens a cumprir.
Agora vou remar, agora vou dormir,
Seguro num espelho a ver-me acordar.

Avida

Que sonho é este que continua a fazer nascer o sol,
As flores em campos minados pelo frio gelado,
Os meninos espalhados pelos cantos da geo-política?
As luzes apagam-se depois da história contada,
Amanhã inventa-se outra que as esponjas engordam,
O pequeno torna-se grande para murchar um dia,
Mas o astro está lá sempre quente.
Deve valer a pena nascer
Deve valer a pena caminhar vivo
Pelos espinhos da rosa
Que quer ser cheirada mas não tocada.
O cego que não quer ver
Acende uma vela no quarto
E reza para que outros não vejam
O que vê ser uma invenção de mau gosto,
Mas agora não quer ver
Que as histórias que lhe contaram
Eram de um confortável ventre materno
Nunca violado e fofo,
Eram de uma fantasia acossada pela realidade
Mais tarde invasora de uma vida.

Sopre-se pelo buraco da fechadura do progresso

Sopre-se pelo buraco da fechadura do progresso,
Do tempo frio e seco da ausência
Dos termos necessários à sobrevivência,
Meu apelo descoordenado sendo,
Ausente e distante e eterno.

Ternas carnes no matadouro
Armado com pressa, empurrões e stress,
Tapam o buraco do sopro lento
Cientes, hmm talvez, do acontece,
Surpreendem-se, não com a semente,
Mas com o rebento.

Fogem, também, lágrimas de fontes secas.
Precipícios que miram lugar algum.
Sons perdidos, achados em ouvidos
De quem não pediu para os sentir.
Não ouves também?
É uma morte a nascer aos gritos
(Como é trocada por magia!)
Um jogo contínuo viciado pela vida,
Um som perdido apaixonado por um ouvido,
Que por cheio estar não o ouve,
Espreita o precipício e vê
Que foram as lágrimas
Que secaram as fontes.

E nesses momentos somos algo maiores

E nesses momentos somos algo maiores,
Coisas e factos de uma mente fértil.
Por vezes surgem silêncios
Ao processar palavras sinápticas palavras.
E assim se pode alinhavar um pouco das vestes
Que o ser humano insiste usar perante a natureza.
Escrevo assim conforme me chega no momento,
Atiro-me a um risco muito maior que esta folha,
É o de não conseguir traduzir o que surge.
Surge o tal silêncio oportuno, ali, depois de algo.
Ainda vibravam películas nos ouvidos
Já a mente repete a frase-ideia,
É a (ordem) química de memorização futura.
“Ser-se divino naquelas poucas oportunidades
De muita coisa estar em jogo,
Dizerem-se as palavras certas.
Pegar-se numa geração inteira em diante,
Um novo paradigma de ensino com certas palavras.
Proporem-se ligações cerebrais, equipar pessoas,
A pensar por elas próprias e assim conseguirem
Ver por elas que o caminho não pode ser este stress.
Porquê esta correria quando se pode
Ostentar um futuro sem propriamente
Coisas de um bolorento passado?
Certas palavras na frase certa da intentona educacional,
Trocar passados incertos por futuros certos,
Assim como quem troca de roupa.

Pertence o tempo aos relógios

Pertence o tempo aos relógios
E o espanto das horas
Que demorava a sombra
A abandonar aquele canto.
E ficava ali sentado
O vaso reclinado
Branco com um cacto.
A sombra ia e vinha
Como a poeira nos ombros do santo,
Varrida pela cortina a custo
Nos dias agitados pelo tédio.
Ouve-se o despertador no poema,
A cortina liberta-se da janela
E cai num pranto lento
No meio do chão poeirento,
O vaso lança-se para um inútil estrondo.
A parede doente de sombra
Agradece os reflexos do vaso
E o cacto promete ficar espetado
Por muito tempo.