3.12.07

E se

E se um pintor partilhasse todos os seus esboços
Um oleiro todos os seus cacos
Um pássaro todos os seus amanheceres
Um poeta todos os seus rasgados textos
Uma bailarina todas as suas quedas
Um maestro suas batutas partidas
Uma cozinheira seus truques ingeridos.
E se. E se.

Todo esse alarido focado fora de nós,
Das indumentárias aos cheiros,
Das plásticas às máscaras.
Perfume de nós é o que pretende a natureza,
Que diferença lhe faz o que pomos para nos cobrir,
Para nos encobrir?

Voltando ao e se,
E se naquele tempo tudo fosse consumido
E se fosse possível encobrir também a história
Mesmo quando ela está a acontecer,
Mesmo ali, a centímetros das retinas,
Antenas de cérebros iincríveis,
Capazes, muito capazes,
De beijar,
De sorrir,
De destruir planetas.